domingo, abril 22, 2007

PARTISTE

Partiste meu amor, qu'importa agora
Esquecer o meu baton, o meu perfume?
Só importa a dor, que como o lume
Me rói, na alma inteira, vida fora...

Meu mundo ruiu, tornou-se abrolhos!
Qu'importa o vestido azul celeste
Ou um outro qualquer que me empreste
Mais beleza ao corpo e luz aos olhos?

A quem importa se me fecho em casa?
A quem posso dizer do peito em brasa
Que queimando, assim fundo, me destrói?

Que me importa a chama na lareira
Se o meu coração é mais fogueira
Que o brasido no lar, que mói e mói?!...

Maria Mamede

sábado, abril 07, 2007

D'OUTRORA

Oiço
como outrora
o cantar das pedras
do rio
à procura da essência
da vida
na ausente brancura
da roupa a secar...
chegam de longe
dessa distância passado
odores e sons
à volta da pedra gasta
onde tantas mulheres
lavaram
a roupa e as mágoas
e onde
tanta vez havia
a magia da voz
em cânticos profanos...
é Páscoa outra vez!
entanto o campo
esse minha lonjura
que o tempo levou
e seus costumes
e suas vozes
e seus ofícios
adormeceu na paisagem
e sei que demorará
muitas gerações
a acordar de novo!...

Maria Mamede

segunda-feira, abril 02, 2007

AOS MEUS FILHOS

Vós que brotastes de mim
como da terra uma flor
fazei da vida um jardim
e adubai-o com amor

Vós que vivestes no espanto
dum querer bem sem medida
na dor, dai largas ao pranto
que lava a mágoa da vida

e 'inda que doa cá dentro
do peito em mágoa a saudade
não espereis de mim um ai

Filhos meus, velas ao vento
criei-vos prá liberdade
e dei-vos asas; Voai!...


Maria Mamede


(in Banalidades)