terça-feira, setembro 25, 2007

UM DIA DESTES...

Um dia destes
vou perguntar aos ventos
pela menina inquieta
que fugia para a rua
a brincar com os rapazes.
Vou perguntar
ao sol de Outono
pelos carreiros da saudade
onde ela via passar
gado e gente
a caminho
dos outeiros mais próximos;
e vou
de vereda em vereda
perguntar aos riachos
que correm
às aves que cantam
às borboletas
que esvoaçam
onde ficou essa menina
e o que foi feito dela!
Ela que conhecia
os córregos mais escondidos
os galhos
das árvores mais altas
os silvados
onde se escondiam os melros
os frutos mais doces
os campos mais floridos
os largos mais propícios
ao jogo do botão...
um dia destes
vou desobrir
onde andam
o seu pião e o seu arco
o seu baloiço
da barraca da palha
a sua corda de saltar...
e vou
olhando-a nos olhos
saber
que amor a prendeu
e que idade tem agora
o seu coração!...


Maria Mamede

quarta-feira, setembro 19, 2007

A ÚLTIMA ESTRELA

A última estrela que me enviaste
morreu
e enterrei-a ao fundo da cortinha
no campo da ribeira grande
ao pé dos choupos...
do buraco pequeno
onde repousa
sai, em noites de negrura
uma luz
intensamente branca
para que eu lhe saiba sempre
o lugar;
esta, foi mais uma das muitas
que me tens enviado.
Algumas vivem
e transformam-se em pássaros
ou em borboletas;
outras, regressam a ti
com recados meus
a servir de cartas;
outras ainda
pegam-se à minha saudade
e morrem de tristeza!
Eu aviso-as, como posso
que não devem ficar
mas elas, que não me querem
ver só
quedam-se nos meus olhos
enchem-se de luz
e vão morrendo
nas gotas redondas
que às vezes os pássaros
vêm beber...
e fico mais triste sem elas...
E porque sabes tudo
o que me acontece
há tantas vidas que nos perdemos
e ainda continuas
a enviar-me estrelas
e a acender em mim
constelações
pela calada da noite!...


Maria Mamede

sexta-feira, setembro 14, 2007

QUEM DERA....(Uma canção para Mariza)

Um dia, um Amigo ofereceu-me vários CDs. e entre eles um de Mariza, cantora/fadista que considero excepcional.
Hoje, ao ouvi-lo uma vez mais, tive de escrever o Poema abaixo, que creio ficaria muito bem na sua voz...quem sabe um dia!...


QUEM DERA

Quem dera pegar na lua
com as minhas mãos de orvalho
e à fé de quanto valho
abraçá-la e guardá-la
no meu peito, onde não moras

quem dera fosse comigo
a lua em todas as horas;

Quem dera a vida me desse
o breve tempo em demoras
e um amor sem ciúme;
e ser lua, ah se eu pudesse
ou se pudesse, ser lume;

talvez a lua eu tivesse
talvez perdesse o ciúme...

Quem dera fosse de sol
esta rua que me veste
esta asa que em mim voa
do nascente ao arrebol
dentro do vento que zoa...

quem dera fosse de sol
esta asa que em mim voa...

Quem dera fosse lamento
este incenso que perfuma
o sol que quero no canto
quem dera fosse o momento
do amor que espero tanto...

quem dera fosse de vento
quem dera fosse meu manto!...


Maria Mamede

sábado, setembro 08, 2007

Explicação...

O Soneto que hoje vos dou a conhecer, deriva duma conversa com Alex Gandum do Blog "Fundamentalidades", a propósito do seu último post; um poema em quadras sobre uma Viagem de Comboio.
Desse Poema, tirei os dois mais belos versos, com que iniciei o meu soneto; desta parceria, deixo-vos o resultado!




VIAGENS


"SÃO OS VALES QUE DESENHAM MADRUGADAS
OS TEUS DEDOS QUE DESCOBREM NOVAS FONTES..."
e teus olhos com estrelas pendurads
são os risos dos faunos pelos montes...

São no peito as dores amarguradas
que se vestem da luz dos horizontes
e geram luas, imensas, prateadas
que se escondem, pra que tu despontes...

E de quem parte são as alegrias
as horas do prazer, de ir à sorte
aventuras de amor, em descoberta

Trazem no regresso as nostalgias
do vivido a dois sem passaporte
dum país de sonho a porta aberta!...


Maria Mamede

terça-feira, setembro 04, 2007

SOLILÓQUIO

Perfumei-me de alfazema
para te esperar
e não chegaste!
E começa a estar frio demais
para este vestido fino
tingido de papoilas;
sabes, já choveu bastante
embora eu não tivesse
abandonado
este banco de pedra
onde te espero
há tantas vidas!
Entanto, o tempo corre.
Desbotou-se o meu baton
de tanto beijar a ausência
e o meu coração
potro selvagem
vai agora a passo
pelos atalhos da espera!
Atormenta-me a demora...
antes, os rios
eram lágrimas
de saudade;
hoje, porém
tudo é deserto
na morte do verde.
Os sonhos, amarelo-desespero
começam a insinuar-se
no horizonte infindo
das memórias.
Rasguei minha alma
contra o casco do navio
onde viaja a esperança
e são já mortas
as horas
que deixei esquecidas
no cais do tempo...
já não sei se falo contigo
ou com aquela pega
que me olha do galho mais alto
solitária
como eu.
Ah meu amor
perfumei-me de alfazema
para te esperar
e não vieste!
E eu, aqui sozinha
há tanto tempo
creio já ter esquecido
o caminho de casa!...


Maria Mamede