sábado, março 26, 2011

SE PUDESSE...

Ah! Pudesse eu ser uma andorinha
que vem e vai nas estações previstas
em busca do calor
atravessando mares!
Pudesse eu ser essa andorinha!...
Pudesse eu ser uma gota de chuva
que a seca, às vezes, permite
à boca ressequida das orquídeas;
pudesse eu ser essa gota de chuva!...
Pudesse eu ser o fluxo das marés
as fases da lua
a direcção dos ventos
o cintilar das estrelas
Ah! Pudesse eu ser!
E seria eternamente presente
na tua vida!...

Maria Mamede

(In "LUME")

domingo, março 20, 2011

CARTA À JÓ


diz às garças
(do meu mando)
nesse terreno
a nascente
que não vou
que estou doente
venham elas até cá…
diz-lhes mais
que quero vê-las
a fazer de sentinelas
nas janelas
diz-lhes, vá!
Não precisam
ficar tristes
o sol está de regresso
só que
em sendo obrigada
a estar na cama
deitada
que saudades
de correr…
por isso
por favor
vai-lhes dizer
pra logo me virem ver
porque me trazem a vida.
Fico muito agradecida!

Maria Mamede

sexta-feira, março 11, 2011

DIVERSO

Com sorrisos
no olhar
de regresso
à juventude
toda me enfeito
de cor;
esqueço a idade
e a dor
e recupero
a virtude
de crer no tempo
a chegar...
não sei que fizeste
em mim
ou que te dei eu
em troca
sei apenas
que é na boca
que palpita
o coração
e os beijos
que nos damos
nela, na face,
na mão
são como a água
a correr;
tão lindo
tão bom de ver
tão diverso
da paixão!...

Maria Mamede

sexta-feira, março 04, 2011

E SE EM SILÊNCIO...

E se em silêncio
respiro o teu olhar
é porque não possuo
nenhuma imagem tua
à minha cabeceira…
é porque te guardo
somente
no sépia dos meus sonhos
atravessando marés
de água
e de silêncios
que a espera me oferece…
é porque são vivos
apenas
os dias do regresso…
é porque cá dentro
do meu coração
há rios
como auroras
a nascer
e risos de cor
a morrer ao pôr do sol…
e há orvalho nos olhos
onde os melros
vêm beber
e beijos saudosos
que se alimentam
de esperança.

Maria Mamede


(In "SEI QUE NÃO ACREDITAS")